olhar não é ver
retratamos buscando os sujeitos, pessoas
contadoras
- mesmo que sem palavras -
de suas história
Sopro I
2015
J O R G E

Era um sábado. Era Jorge seu nome. Era profeta o moço de 56 anos. Bêbado no momento em que nos encontramos, o profeta me contava um tanto de verdades! Calei. Calei meu espírito pra ouvir. Em pouquíssima palavras, um sermão, uma lição. E apontava pra seu filho... Seus olhos me confessavam da impossibilidade de ampará-lo como gostaria. Tão pouco de um tudo. E apontava pra terra onde moravam seus filhos. Aquela terra que não se encontra no mapa, pertencente a lugar nenhum, pela qual ninguém se responsabiliza - a não ser nas épocas de eleições, quando o lugar é facilmente encontrado e poluído pelas plaquinhas indecentes estampadas com caras sem-vergonha. Profeta Jorge calava. Me olhava. Eu tentava olhar de volta na mesma intensidade e entendia. Não era com mais ninguém. Era comigo que o profeta falava. Agucei os ouvidos, não pisquei, eis que o Eterno me falava através do Jorge e eu entendia: "intensifica a LUTA". Foram poucas as suas palavras e seus movimentos. Mas clareava todas as percepções que meus sentidos já estavam absorvendo...
Como que partia, citou um conhecido profeta seu, um Jeremias..."A tristeza caminha comigo(...) Ele é Deus". E apontou pra sua filha, "aí óh!"

Com sua permissão, coloquei a mão em seu ombro e vazei: "Você é um profeta, Jorge, e está certo no que diz. E o Eterno está contigo"
Ele riu de leve, de cantinho de boca e seus olhos se encheram de lágrimas. Fizemos um retrato seu com seus filhos e, oxalá ele o terá em mãos em breve. 
Parque Analândia, RJ - Brasil, 2016.

Sopro II
2015
Retratos
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Retratos

olhar não é ver pessoas precisam ser vistas, precisamos nesses cortes do todo busco ver esses sujeitos, agentes de suas próprias vidas e contador Read More

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