A planta original do apartamento era bastante potente, oferecendo muitas possibilidade de intervenção, devido à posição completamente central da sala em relação aos outros cômodos. A sala era circundada por corredores nas laterais que davam acesso à uma cozinha comprida, também adjacente à sala em toda sua extensão. Durante o processo de projeto foram desenvolvidos quatro layouts diferentes e o arranjo definitivo se deu pela reunião das melhores situações de cada uma, como um quebra-cabeça. Desenhada para um jovem de 30 anos, a reforma pretendeu criar um espaço mais aberto, de ambientes interconectados, mais condizente com a vida contemporânea nas cidades.

A mesa de jantar, a princípio sem lugar, rompeu a parede entre sala e cozinha, podendo ser acessada pelos dois lados. Além de resolver uma questão de espaço, esse gesto melhorou a iluminação e a ventilação. Criou ainda um ambiente mais interessante para os festejos e recepções de amigos e familiares.

Para melhorar o layout da sala e acomodar um sofá com mais conforto, a porta que dava acesso ao corredor foi modificada de lugar. Esse movimento gerou uma dinâmica muito interessante nos fluxos, de variadas possibilidades. Mesmo que a mesa de jantar esteja cravada na parede, ela tem circulação em torno de si através das passagens próximas a ela.

Outra intervenção importante foi conectar o quartinho de serviço à sala, por intermédio de uma estante vazada. O quartinho recebeu um escritório e a estante desenhada para a TV, que pode se virar para o lado que for mais interessante no momento. A posição do escritório também se vale da porta de serviço, podendo recepcionar visitantes de trabalho, sem adentrar na intimidade da casa. Há inclusive um lavabo bem ao lado do escritório, para atender a esse tipo de situação. O quartinho se tornou, com essa abertura, um local para longa permanência, pois não tinha janela.

A intervenção nesse apartamento acabou sendo uma experiência radical de estruturar o espaço com a marcenaria, na qual os elementos arquitetônicos tiveram uma atuação mais silenciosa, mas não menos incisiva. Em alguns momentos a arquitetura esteve a serviço do mobiliário, por vezes ao contrário: uma simbiose entre ambas, um espaço sintético mas não estático. Os móveis, mesmo que acoplados, funcionam autonomamente em outros contextos e usos. Já o detalhamento construtivo esteve muito atento às questões e propriedades dos materiais. Então as medidas dos vãos levaram em consideração os tamanhos das chapas de madeira e os móveis foram pensados em módulos que se conectam de maneira contínua e inteligente. Como o armário debaxio da bancada da cozinha, pois seu comprimento era maior que uma chapa de compensado. A emenda foi resolvida através de uma porta flutuante que conecta duas partes, gerando um nicho que abrigou o botijão de gás. No armário sobre a pia, são também dois elementos, um com prateleira e o outro acima do depurador de ar e da geladeira. A bancada do lavabo é todo feito em painel de teka, buscando dar expressividade à suas linhas. Na cozinha usamos compensado naval, que possui uma cola especial resistente à umidade. O uso da madeira (mesmo nas áreas molhadas) foi importante escolha para dar mais ao aconchego e elegância ao ambiente em geral, agora todo conectado visualmente. O roda-teto da sala, os pisos de taco e de granitina rosa são originais e  foram mantidos.