Arca de Cândido Amaro
Algumas anotações soltas do caderninho que se relacionam:
"Arame farpado e lanças, enfeites da disputa pra se olhar com impotência, metal fundido em delicados formatos perfurantes. A lança da cerca aponta que o que está em cima é como o que está embaixo."
"Imaginemos a forma que perfura: sempre foi usada, é uma das ferramentas mais antigas já feitas. A forma da ponta sempre sugeriu violência, sempre ameaçou a fragilidade da matéria dos corpos. Sempre foi um vínculo entre o predador e a presa, seja em forma de faca, de flecha ou de lança. Esteve na ponta dos punhos, planando no ar ou na extremidade da haste que fere de longe. É uma conexão de guerra entre dominante e dominado.
Quando colocadas no topo dos portões e dos muros, são armas que já não precisam das mãos presentes dos proprietários do território pra empunhá-las. O que era conexão, torna-se muralha entre dois universos alheios, e alerta que, se um habitante do universo externo planejar invadir o universo interno do muro, a única conexão que terão será de dor, ferida, desintegração do corpo invasor.
A estabilidade da arma no muro faz com que o item que antes aludia a uma estética de violência, da batalha, agora se transforma numa estética de poder, de reino, de dominância. A palavra condomínio vem daí (e vem mesmo)."
"Arame farpado e lanças, enfeites da disputa pra se olhar com impotência, metal fundido em delicados formatos perfurantes. A lança da cerca aponta que o que está em cima é como o que está embaixo."
"Imaginemos a forma que perfura: sempre foi usada, é uma das ferramentas mais antigas já feitas. A forma da ponta sempre sugeriu violência, sempre ameaçou a fragilidade da matéria dos corpos. Sempre foi um vínculo entre o predador e a presa, seja em forma de faca, de flecha ou de lança. Esteve na ponta dos punhos, planando no ar ou na extremidade da haste que fere de longe. É uma conexão de guerra entre dominante e dominado.
Quando colocadas no topo dos portões e dos muros, são armas que já não precisam das mãos presentes dos proprietários do território pra empunhá-las. O que era conexão, torna-se muralha entre dois universos alheios, e alerta que, se um habitante do universo externo planejar invadir o universo interno do muro, a única conexão que terão será de dor, ferida, desintegração do corpo invasor.
A estabilidade da arma no muro faz com que o item que antes aludia a uma estética de violência, da batalha, agora se transforma numa estética de poder, de reino, de dominância. A palavra condomínio vem daí (e vem mesmo)."