TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO - PUC-GO
ARQUITETURA E URBANISMO
AUTOR: RAUL MOURA CAMPOS
ORIENTADOR: DR. PEDRO HENRIQUE MÁXIMO PEREIRA
2023

PRIMEIRO LUGAR NO Prêmio de TCC 2022 – Professor Antônio Lúcio, realizado pelo CAU/GO - CONFIRA AQUI

MEMORIAL DO TRABALHO - CONFIRA AQUI


Corpos, busca compreender os reflexos do processo de urbanização em Goiânia-GO, analisando aspectos históricos, sociais, ambientais, econômicos e políticos da formação do município. Essa análise traz destaque para a bacia do Ribeirão Anicuns, especificamente na região entre os eixos GO-060 e BR-060. O fragmento descrito expressa e reproduz dinâmicas urbanas que operam nessa metrópole. Por fim, esse trabalho almeja analisar e desenvolver propostas que possam escutar e dar voz aos corpos que habitam esse tecido urbano.


COR.PO (S)

“tudo o que tem existência física e
extensão no espaço; matéria,
substância.”

Vítimas da ação humana depredadora e do descaso do poder público, os corpos hídricos
de Goiânia-GO vem sofrendo há anos os resultados do acelerado processo de deterioração do seu ecossistema, fenômeno intensificado à cada década pela consolidação da metrópole.
Erosão das margens dos córregos, supressão da mata ciliar e o assoreamento são alguns dos problemas causados pela ocupação desordenada da cidade, que podem levar à destruição dos cursos d’água, além de ameaçar os moradores próximos aos mesmos.
Também prejudicados pelo descaso do poder público e da voracidade do capital imobiliário, nos leitos dos córregos e ribeirões está contida a população mais pobre de Goiânia, essa sujeita à todas as mazelas sociais e dinâmicas da segregação sócio espacial. As margens do Ribeirão Anicuns, percebe-se nitidamente a confluência dessas mazelas ambientais e sociais compartilhando o mesmo espaço geográfico, apresentando carência de uma articulação social, e a ausência de políticas urbanas capazes de dar respostas as demandas dessa população.
Apresentam-se portanto, essas duas realidades desassistidas do poder público e vistas
como antagônicas pelas leituras tradicionais do espaço urbano, mas que se apresentam
numa relação de auxílio e sobrevivência, uma vez que um corpo busca abrigo no outro. Todavia, respostas que possam dialogar de forma harmônica e sistêmica com essas complexas dinâmicas, se veem cada vez mais urgentes.
Esse trabalho, busca diante dessa situação posta realizar uma leitura urbana afim de perceber conexões e resoluções que possam dar atenção à esse cenário ambiental,
social, econômico, por fim urbano.

Marginal Botafogo (tributário do Ribeirão Anicuns) alagada após chuva forte em Goiânia. Foto: Dehovan Lima
Os corpos que habitam e coexistem nesse complexo sistema urbano, mostram-se cada vez mais suprimidos de local de fala.
Colocados sempre em último plano de cuidado e proteção aos olhos da cidade formal, esses são tratados como revoltosos e ameaçadores quando querem ser ouvidos.

DIRETRIZES
Partindo das diretrizes e demandas específicas de cada região, foram realizados recortes de estudo e aplicação das medidas propostas ao longo do objeto de pesquisa.
Recorte A: Jardins do Cerrado
Diagnóstico:
-Isolamento urbano;
-APM’s inutilizadas;
-Sistema de escoamento incipiente;
-Dependência do transporte motorizado.
Proposta Geral:
Utilizar das Áreas Públicas Municipais (APM's) como espaços de cultivo e troca, principalmente alimentar nessa região isolada do tecido urbano, é de extrema importância para a garantia de um local de fortalecimento urbano e apropriação dessas áreas.
Buscando maior integração urbana, o parque linear que percorrerá ao longo do leito do ribeirão se inicia aqui, conectando o mais isolado bairro contido no recorte entre eixos.
Aprimorar instalações drenantes já existentes, com a criação de jardins filtrantes associados aos distintos níveis de detenção da agua de chuva, evitanto prejuizos ao leito do rio.
Recorte B: Lorena Parque
Diagnóstico:
-Região com adensamento considerável;
-Presença de rede de alta tensão;
-Faixa de servidão e APM’s sub ou mal utilizadas.
Proposta Geral:
A faixa de servidão da linha de transmissão contida no recorte, trata-se de uma região que não pode ser ocupada comumente devido a margem de segurança necessária. Essa possui configurações especificas para ocupação, segundo consta no código de obras.
Todavia, nesse vazio em meio ao tecido urbano, o plantio de hortaliças e vegetação de baixa altura é possível. Desse modo, é proposto a criação de um cinturão de plantio que possa atender as demandas locais.
Ao mesmo passo, as APM’s dispostas ao longo desse trecho, seriam incorporadas para atender ao sistema de plantio e distribuição de alimentos.
Recorte C: Jardim Leblon
Diagnóstico:
-Encontro: Ribeirão Anicuns e Macambira;
-Grande área desmatada;
-Potencial de integração do vazio na paisagem;
-APM não utilizada lindeira à APP (Área de Proteção Permanente).
Proposta Geral:
O maior impacto desse recorte está nos corpos hídricos, por ser ponto de encontro de dois importantes córregos, a estratégia de detenção das águas de chuva se faz necessária.
Desse modo, foi proposto a criação de um parque hídrico com desenho que possibilite o controle do volume d’água durante a precipitação, atendendo portanto uma demanda infraestrutural e urbana, com a criação de equipamentos urbanos no interior do parque.
Criar áreas de cultivo lindeiras à APP aqui também é uma forma de cuidado, conexão e resistência dos corpos que compartilham o mesmo espaço.
Olhar nossa espacialidade e compreender o momento que vivemos, demonstra-se cada vez mais urgente em nosso contexto urbano. A partir desse olhar crítico para a realidade posta, afirmamos a necessidade de sermos agentes e força de mudança.
Esse trabalho buscou dar voz aos corpos que resistem a dinâmica urbana segregadora, que sufoca e os encurrala para o esquecimento.
Dar espaço e reconhecer a importância desse diálogo, é peça fundamental para garantirmos uma existência saudável, que respeite a integridade de todos os corpos componentes do sistema urbano.

RMC
2022
CORPOS
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