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B3 - Artigo sobre educação financeira para crianças

Artigo - Educação financeira infantil: saiba falar de finanças com os pequenos
Saiba como trabalhar a educação financeira infantil para criar adultos mais conscientes e seguros
Para B3 - ago./2022

Dinheiro é assunto de criança? O tema pode parecer espinhoso e difícil de tratar. Para algumas famílias, o assunto dá até um pouco de vergonha. Para outras, é complexo, abstrato demais para a idade. Na realidade, falar sobre dinheiro é o primeiro passo para ajudar as crianças a estabelecer uma relação mais equilibrada e saudável com as finanças ao longo da vida.

De forma geral, os pequenos são grandes observadores. É por meio desse olhar atento que eles começam a compreender os mecanismos e estruturas sociais – o que inclui, naturalmente, a percepção do consumo.

Por isso, nem adianta tentar fugir: enquanto descobrem a realidade, as crianças vão pedir e questionar. “Me compra tal coisa?” talvez seja a primeira pergunta. “Somos ricos ou pobres?” também é clássica.

Para a consultora internacional de educação financeira Cássia D’ Aquino, é importante tratar de finanças com as crianças a partir de quatro premissas bem concretas: como ganhar; como poupar; como gastar; e como doar.

Criança também pode investir?
D’Aquino é psicanalista pós-graduada em Ciências Políticas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e autora de livros como “Educar para o consumo” (Papirus 7 mares, 2012) e “Como falar de dinheiro com seu filho”.

Neste guia, preparado com a ajuda de D’Aquino, aprenda como falar com crianças de todas as idades sobre dinheiro.

Limites do desejo e da necessidade
Agora que você já descobriu que não adianta tentar escapar do assunto, saiba que os limites e as prioridades financeiras da família devem sempre ser colocados de forma clara para os pequenos. Independentemente da idade, o que funciona é ser objetivo quando se trata de gastos.

Significa que, se não é possível comprar alguma coisa, basta dizer que naquele momento o dinheiro não é suficiente ou que aquela não é a hora adequada para fazer a compra.
No dia a dia não vai ser exatamente fácil. É natural e esperado que muitos sentimentos – acompanhados muitas vezes de choro, birra e bico – surjam nesse percurso, principalmente quando vier a frustração.

Aos poucos, porém, os pais esclarecem que querer é diferente de precisar. Dessa forma, as crianças começam a identificar o que é desejo e o que é necessidade – com isso, elas notam também que suas escolhas são relevantes e têm consequências.
Pais e mães são condicionados pela vontade de dar aos filhos tudo aquilo que não tiveram, mas as consequências dessa máxima nem sempre são positivas. Quem nunca se perguntou se gastar R$ 20 ou R$ 30 a mais do orçamento faria falta? Com as crianças, é claro, esse desejo não é diferente, ainda mais para aquelas que ainda não tem noção clara de necessidade versus vontade.

Diante disso, tome cuidado com a associação entre consumo e prazer. Muitas vezes os pais compensam a jornada de trabalho durante a semana com excessos no final de semana.

Isso induz os pequenos a pensarem que gastar dinheiro está diretamente ligado ao prazer. Mostre que outros tipos de programa, que nada custam, também são divertidos e recompensadores, como ir ao parque, andar de bicicleta, brincar ou conversar em família.

Dos 2 aos 5 anos
Elas até parecem muito novas, mas a verdade é que as próprias crianças vão indicar o momento em que estão preparadas para começar a falar sobre dinheiro. O “me compra tal coisa?” acontecerá em um dia qualquer e esse é o sinal de que o processo básico de consumo foi aprendido.

Nesse sentido, a criança entendeu que existe alguma coisa – dinheiro – que é usada para obter algo que ela quer – um brinquedo ou um doce – e que é você – o principal modelo dela – quem tem o que é necessário para conseguir.

Nessa hora, nada de pânico! Ainda não é o momento de ensinar o que vale mais ou como anda a saúde financeira da família. Como lidar, então? Educação financeira.

E isso não quer dizer que você precisa matricular seu filho em um curso de finanças, embora possa fazê-lo. Algumas atitudes simples e simbólicas podem ser suficientes a partir dos dois anos de idade. Basta incluí-las no cotidiano de forma tranquila e natural.

Veja dicas para falar de dinheiro para crianças

Apresente o dinheiro ao pequeno
Mostre que as cédulas e moedas são diferentes entre si – tamanhos, cores, texturas, desenhos. Ensine que é preciso cuidado para manusear o dinheiro, que ele deve ser guardado em local seguro.

Mostre as operações que faz com o dinheiro
Ao pagar alguma coisa, indique que fez a contagem das notas para chegar ao valor necessário da compra. Se houver troco, mostre a conferência do valor para indicar preocupação com os valores.

Explique toda operação realizada
Checagem do valor, digitação da senha, impressão do recibo, desconto do valor da conta bancária ou aumento na fatura. Reforce a importância das senhas e a necessidade de sempre conferir quanto há disponível para gastar.

Aproveite essas situações para explicar de onde vem o dinheiro
Como a nova economia é digital e abstrata, os responsáveis precisam explicar a conexão entre o dinheiro e os cartões, o PIX e outras ferramentas. Você trabalha, o valor é depositado no banco, você opta por usar o cartão para pagar algo que precisa ou saca o dinheiro.

Reflita em família
Inclua a criança no momento de fazer o planejamento financeiro da família. Antes de ir ao mercado, por exemplo, peça que ela ajude você a fazer uma lista de produtos necessários.

Ainda tem leite na despensa? Quantos litros são consumidos durante uma semana? Há necessidade de comprar mais caixas? Na ida ao supermercado, deixe a criança encarregada de pegar os itens pendentes. Dessa forma, ela começa a entender a importância de planejar como utilizar o dinheiro.

Dos 6 aos 11 anos
Crianças de 6 aos 11 já têm idade suficiente para receber algum dinheiro. Por isso, a partir dessa idade, você pode dar um novo passo na educação financeira com as “semanadas”: quantias baixas entregues sempre no mesmo dia da semana.

Esse processo é útil para que os pequenos se organizem e se aventurem pelo consumo, reforçando os aprendizados sobre se planejar financeiramente. O valor adequado é definido de acordo com a saúde financeira da família. O ideal é que os pais definam um valor fixo e depois multipliquem pela idade dos filhos.

Vamos imaginar que um casal tem dois filhos: um de 8 e outro de 10 anos.
Eles combinaram que o valor viável é de R$ 1 por ano de vida das crianças. Logo, o caçula receberá R$ 8 por semana, enquanto o mais velho receberá R$ 10 por semana, totalizando R$ 72 por mês – R$ 32 para o filho de 8 anos e R$ 40 para o de 10 anos. Vale lembrar que, quando uma criança faz aniversário, o valor será reajustado.

É fundamental esclarecer também que crianças menores de 10 anos ainda não têm total capacidade de compreender a marcação do tempo em dias. Por isso, é interessante acompanhá-las de perto na tarefa de planejamento.

Uma sugestão é definir com elas objetivos a curto prazo, com gastos que utilizem no máximo 50% do valor recebido. Se necessário, disponha de um calendário para que ela risque os dias e observe o passar do tempo com mais clareza.

A chegada da adolescência
A partir de 12 anos, é importante seguir oferecendo o dinheiro ao adolescente para que ele siga no processo de planejamento. Aqui, no entanto, o valor passa a ser dado mensalmente.

Nesse momento, eles estarão prontos e se sentirão mais seguros para fazer planejamentos mais longos e de valores mais robustos – como o montante necessário para comprar um novo celular. Conversas sobre novas modalidades de investimento são incentivadas.

É fundamental que você fique disponível para orientar nos momentos de tomada de decisão, mas permita que eles façam as próprias escolhas – e arquem com as consequências de cada ação.

Importante! Se, por qualquer motivo, a criança ou o adolescente “falir”, não dê mais dinheiro. Essa é uma boa oportunidade para eles aprenderem com os próprios erros.
Durante todo esse percurso, oriente seu filho que, além do valor poupado e dos gastos realizados, o uso do dinheiro deve ser guiado pelo preceito da responsabilidade social, conforme pontua a educadora financeira Cássia D’Aquino.

Ela lembra que faz parte do processo de educação financeira para crianças incluir a doação – não somente de dinheiro, mas de tempo e atenção – a pessoas necessitadas, formando adultos mais empáticos e éticos.

Menos impulso, mais resiliência
Ensinar os filhos sobre educação financeira é mais do que garantir um futuro financeiro tranquilo: é fazer com que entendam que o dinheiro é importante, mas que não pode ser o centro da vida deles.

O processo de se planejar, poupar e só então efetivamente comprar deixa as crianças mais próximas do consumo consciente, evitando decisões por impulso – e impedindo que sejam reféns do cartão de crédito ou do cheque especial na vida adulta.

Além disso, faz com que sejam adultos mais responsáveis, cientes da sua saúde financeira e confiantes para passar por momentos de dificuldades.

Gostou desse conteúdo e quer se aprofundar ainda mais na relação das crianças com dinheiro? Confira a masterclass de Cássia D’Aquino no hub de educação financeira!
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