A METAFORMOSE DE MEDUSA



A PROPOSTA
Ao recorrer as produções culturais de berços civilizatórios como a Grécia, surge a partir da necessidade de entender cristalização de processos erigidos desde antiguidade, tendo como escopo as relações de dominação que possuem como ligante a desubstancialização da humanidade do outro, para  posteriormente objetifica-lo alimentando assim o processo das relações de poder (Exemplo: discriminação de gênero, racial, lgbtqia+ e capitalista com suas fases em específico o neoliberalismo e a urberização do trabalho). 
O próprio mito de Medusa que em sintese, conta a história de uma mulher devota as condições e crenças de seu tempo que foi usada por alguém maior em força e condição social, o deus Poseidon, e depois julgada e condenada por ser vulnerável, posteriormente transformada em monstro, dá cabo do processo que denominei de monstrificação.
A metamorfose de Medusa , evidencia que tal processo é uma construção de narrativas com ângulos específicos que atende a interesses dominantes, onde a vítima é engendrada pelo próprio assassino para justificar seu ato vil. A figura da deusa Atenas é a alegoria do aparato ideológico como a a justiça e a igreja que são subservientes a Poseidon que ganha a configuração alegórica dos detentores de poder que possuem uma cor especifica e uma orientação sexual unívoca. 
A MORTE DE AKUANDUBA


RECURSOS MATERIAIS
Desde a apresentação da proposta docente ao solicitar produção tridimensionais, surgiu o interesse por pesquisar materiais que cumprissem com objetivo de baixo custo, fácil acesso e que atendesse as demandas do contexto pandêmico que limita a produção em casa, cerceada de carências dos aparatos técnicos. Enfim, levando em conta tais preocupações encontrei no papel alumínio a saída para construção tridimensional. 
Pretendi seguir a proposta de produzir obras que tratam de questões de alienação e crítica aos aparatos ideológicos do sistema capitalista, decidiu-se abordar o avanço da agenda neoliberal no Brasil no governo Bolsonaro, especificamente na pasta do meio ambiente quando estava sob a direção de Ricardo Salles. 

A PROPOSTA
A morte de Akuanduba é a materialização do que penso acerca do caos vivido no meio ambiente, no momento em que o Brasil possui um poder do executivo que favorece a latifundiários e a grileiros, chegando a ter a maior apreensão de madeira da história. A floresta amazônica está sendo destruída em nome de interesses privatistas, gerando declínio na configuração climática e no biomas do país e do mundo. E pior que isso, é o genocídio que ocorre com as comunidades indígenas que habitam em áreas importantes para o capital, que não hesita em matá-los diretamente com armas de fogo e assassinatos misteriosos, ou, de forma indireta com “chuva de agrotóxicos” (aplicação de agrotóxicos via área atingindo lugares habitados pelas comunidades). Ao pensar tais questões, tornou-se impossível não propor diálogo com a história do Deus indígena Akuanduba, que protegia os povos indígenas  com sua flauta. Destarte recorro a perspectiva místico/religiosa para compreender a vulnerabilidade das comunidades indígenas, com a destruição da arma de Akuanduba, neste caso a flauta. A morte do Deus que acontece de forma concomitante a cada quilômetro de desmatamento da Amazônia.


CONSTRUÇÃO IMAGÉTICA
Depois de refletir acerca do material utilizado, e da temática é preciso avançar para uma das etapas mais complexas, a construção da imagem, ou seja, pensar qual a melhor forma, qual o melhor signo concentra e exterioriza as implicações. Sendo assim, ao pensar na pasta do meio ambiente, e na própria fala do ministro dizendo que era importante aproveitar a pandemia para passar a boiada, entendi que o melhor ícone para representar tais ideais era a figura do boi. Já a construção imagética recorrente a Akuanduba exigiu mais informações acerca do mesmo, logo, tornou-se claro que a flauta seria o melhor signo para abordar o Deus indígena. Entretanto, entendi que tal projeto assim como o dadaísmo denuncia as “mentiras do racionalismo burguês” (p.136), portanto seria interessante ainda, inserir as elaborações de Duchamp destacadas por Kraus, ao abordar a questão dos read meads, apropriando-se de objetos, e subvertendo sua lógica de uso para transformá-los em objeto estético imbuído de conceito. Recorri a uma tigela de alumínio para me apropriar da questão levantada por Brancusi elucidada por Kraus (p.137), onde “no trabalho é inserido os reflexos e contra-reflexos que vinculam o objeto ao seu lugar convertendo-o no produto do espaço real em que o observador o encontra.”. Possibilitando ao observador a percepção de que ao ser refletido pela tigela perceba-se também como alguém que está sendo prejudicado, e que as implicações da pasta do meio  ambiente e da bancada ruralista não estão destruindo só a mata, ou a floresta mais sim todo mundo. 
O projeto ganhou o nome de Alienati, justamente por estarem por questionarem o sistema capitalista, sendo assim, decidi denominar essas problemáticas em "alienado", que no latim é algo próximo a "alienati". Pois todas as formas de exploração que só são possíveis a partir do processo de monstrificação, quer seja da mulher, da comunidade LGBTQIA+, do meio ambiente, do negro, do pobre ou da massa proletariada, são todos ligados em único fio, o da máquina do lucro.

 
SCIENTIA SEXUALIS
A obra “Scientia Sexualis" é um termo que me apropriei ao ter contato com o livro "A história da sexualidade” de Michel Foucault, que analisa as mudanças acerca da conduta social do século XVII, XVIII, XIX e XX. Enfatizando os tabus gerados da era vitoriana  e como tais regras favorecem e foram usados e potencializados pelo capitalismo. Propondo diálogo com o sociólogo espanhol Manuel Lucas Matheu que elucida que a sexualidade é genitalizada, justamente para corroborar com a lógica vigente que exige o máximo da força de trabalho necessitando que do proletário esforço mínimo com seus prazeres. Destarte decidir produzir um falo de papel alumínio, que dá cabo de duas máximas, a primeira é que a sexualidade no Ocidente foi relegada a uma tecnologia do sexo, que seria uma visão unívoca do sexo e a segunda que favorece ao capitalismo obliteração da construção de novas sexualidades ou das que existem em nome de uma perspectiva sexual pautada genitália.
A obra foi pensada a partir dos desdobramentos do termo site specific da Rosalind Kraus, que em síntese concerne na produção artística emergente e coadunada com as região em que se está, divergindo por exemplo, de site specificity, que propõe a construção artística para determinado lugar. E é imbuído de tal concepção que comecei a olhar de forma crítica para a construção de um prédio que acontecia ao lado do meu apartamento. Ao ouvir os barulhos de batidas e sons de máquinas concernentes da construção de edifícios,  logo pensei acerca da dupla alienação, onde o proletário produz de forma fragmentada, limitando-se somente a uma parte do processo total e depois se ele (o proletário) quiser usufruir daquilo que construiu ou consumir aquilo que produziu terá que pagar. E tal situação é a mesma que ocorre na construção ao lado da minha moradia, esses trabalhadores nunca poderão usufruir do trabalho de suas mãos sem dinheiro, e assim seguem alienados sem saberem e sem condições de gerar revolução e propor um outro modo organizacional, tal impedimento se dá, pela formação do exercito reserva que possui o sexo só para procriação incentivado pela Igreja como base, pois enquanto mais a massa proletária se multiplica sem consciência de sua miserabilidade, mais o capital determina as relações de poder.  
Destarte, a “scientia sexualis”  questiona o sistema que tomou todas as esferas do vida, chegando ao ponto de determinar a forma de sexualidade da sociedade.

ALIENATI
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