Heitor Fernandes

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Heitor Fernandes

Estar presente no mundo é aceitar as condições imanentes do nosso
corpo sensorial. É perceber como tudo ao seu redor é violento de alguma forma, marca-te e mancha-te. A beleza e o horror não são conceitos distantes.

Escrevo este texto recluso em meu quarto, temendo o corpo do não-
visível. Fujo energicamente deste micro pedaço de natureza, recusando
quaisquer novas marcas em mim, esquecendo que já me tornei mancha. Não existe escape total, nem as minhas paisagens oníricas estão imaculadas, mas sigo suplicando pela vida em frente a política de morte do país.

O trabalho aqui exposto faz parte de uma série que ainda está em
desenvolvimento. São retratos da minha presença que foi abruptamente limitada e tomada por um estado de total vigilância; é como eu me percebo junto àqueles que experienciam a vida e a dor comigo.

Exploro estes corpos de afeto pela materialidade do grafite e da cera de
abelha. O lápis marca o seu trajeto no tecido, fazendo-se quase invisível, mas não inaudível. O ato de riscar e seu som me fazem habitar, mesmo que por segundos, um espaço mais sereno.

As imagens são tomadas por camadas de transparências, entre tons
amarelados e acinzentados as figuras se misturam e fazem parte de um todo; um pedaço registrado do que já foi e que vai me acompanhar até o fim da minha consciência.